terça-feira, 9 de março de 2010

ENTIERRO DE LAS VOLUNTADES



Neste domingo passado, eu a amaterasu e o leandro partimos para uma viagem. a minha bagagem era a pele de um ceginho , uma viola ,merenda (que entretanto ficára esquecida , em torre de moncorvo), o meu telemóvel (que veio a revelar-se tão inútil quanto os demais existentes).



Acompanhado pela amizade dos meus companheiros, ria-me com a minha amaterasu de desgraçadinha pintada. o leandro deitando um olhar paciente e preocupado nos seus dois actores ,virou-se para os céus cinzentos,protestando de tanta chuva e.... tanta loucura a resvalarar dos risos estridentes, do ceginho e da desgraçadinha.






O condutor, carlos d' abreu ( um homem empenhadíssimo na divulgação do património raiano e transmontano, douro incluido), ía falando dos pormenores arquitecturais e paisagístico do percurso, envolvendo história pelo meio.


Barca d'alva.
Chuvicos e chuva alternando com muito nublado. O caminho de ferro ,encerrado faz vinte e cinco anos, olhava triste para as águas do douro amarelado. A festa transfronteiriça da amendoeira em flor ,este ano , coincidiu com a inauguração de uma escultura simbolizando o enterro das vontades gorvenamentais, quanto à reabertura deste máginfico troço de engenheiria ferróviaria, que partia do Porto e seguia até la Fuente San Esteban.






a transfonteiriça ponte ferroviaria , galga o rio Águeda na sua foz, acabando por morrer em espanha ,com o pomposo adjectivo de património de interesse turístico (pois em portugal está morto e nem estatuto de património tem), a uns metros de um túnel, de onde ecoam memórias do passado.
















Após uma atribulada actuação, em que o cêginho foi obrigado a fazer parar o transito , já que a desgraçadinha esperava um comboio que tardava em chegar e ia-se esqueçendo de pegar no cêginho e desviá-lo para a berma do caminho, em que o pobre tocador ia parando ao douro de tão desorientado que andava(não fosse ele cego e coxo); lá foram todos para o topo da arriba, ampanrando um senhor com 70 anos uma perna partida outra inflamada , e o cansaço natural que estas coisas provocam.




Farnel.

uma mesa bem composta , vinho português e espanhol , pão , muito peguilho, menos o nosso....claro. E eu com um ataque de fúria. Lá se compôs a coisa, tocamos umas musiquetas cantamos em espanhol, português e françês e lá fomos conversando. Gente interessante, fotógrafos a tirar umas a uma distancia respeitável e outro a capturar-me na caixinha mágica, mais vezes do que alguma vez o fizeram em toda a minha vidinha.




A minha viola , prostituida , foi parar às mãos de um castelhano(com a minha autorização, não fosse eu chulo dela) , e passado 10 min o castelhano: "- rompi un mi-".....




fumo a saír da minha locomotora...calma duarte, calma.... peguei no profanado instrumento, orfão de algum aço , tal como a triste linha que muitas viagens cantou; e pendurei-a para um breve descanso. não tardou desenterrei a minha vontade e alegremente, lá se animaram as hostes.




Partimos para o encerramento de a exposição patente em Barca de Alva .

Uns pela linha acima, em direcção à abandonada estação, outros de automóvel( o meu amigo dramaturgo de 70 anos, eu a amaterasu, o carlos ,a mulher o visconde- que entretanto tinha antipatizado com a viola, dando lhe umas valentes ladradelas). continuava o céu cinzento.




A exposição " La Raia rota" de Vitorino Garcia , teve honra de banda e de uns passos de dança do ceginho acompanhado pela sua desgraçadinha( que entretanto se ria com o rosto camuflado no peito do coxo cego), presa entre ele e a viola.



em primeiro plano vitorino


Acabada a banda lá foi a desgraçadinha ver a esposição, acompanhada do seu ceginho(que lhe pediu para descrever a textura das imagens que ele nunca vira e que muitos esqueceram), com a esperança de poder cantar mais uma vez, e sacar uns vintéms para o pão. nada feito. depois do discurso que o cego ouviu e a desgraçadinha (cansada e trêmula) digeriu, saíram.


Já no café do xico, os dois perguntaram se podiam tocar e cantar, e despejaram as desgraças recolhendo as não menos desgraçadas esmolas. 1h40 min depois , a amaterasu e o duartenovale , tinham poisado a máscara. O comboio não passara, a eva tinha saido e uns ventos vadios invadiram a alma do biolas. Raiva contida.


e assim descarrilados nas vontades enterradas fomos para o vale.


obrigado xaina, leandro vale, carlos d'abreu(e sua filha pela gentileza), e obrigado companheiros por este momento chuvoso mas frutífero.


abraço do vale

fotos de Daniel Gil

para mais informações, consultar http://www.contrabando.org/

4 comentários:

Amaterasu, às vezes Aurora disse...

foi uma estreia tremendamente cheia de improvisos com montes de gargalhadas, contratempos, agonias, suores frios...mas...altamente..

a eva sabes como é tem a tendência a ser imprevisível e desaparecer tão veloz como o vento.. :)

poesianopopular disse...

Ói camarada Duarte!
Belo post e bela música, que belas recordações nos trás, vou ficar mais um pouquinho a cantarolar.
Abraço grande!

Fernando Samuel disse...

Que grande aventura!

Um abraço.

paulo patoleia disse...

parabéns pela excelente iniciativa cultural, que enterrando simbólicamente as promessas espero que sirva tmb para acordar as vontades, de ver resuscitado esse troço da linha do Douro, para mim, a mais romântica da Europa. Quanto ao papel do ceguinho e da desgraçadinha,um relíquia duma realidade recente, nas nossas feiras e mercados, parabéns ao Carlos D,Abreu e ao Leandro assim como aos nuestros hermanos pela performance eu não pude estar pessoalmente mas estive transfigurado nos oculos do ceguinho em geito de homenagem. Paulo Patoleia