domingo, 24 de janeiro de 2010

enfrentei tua sombra despida

jazia num passeio poisada

ao lado de um brilho...

era minha mão armada

que te quis sombra nua.

bailei louco sob os silvos

da metralha dos olhares

em teu fogo consumado

construí um abrigo....

e em cinza , petrifico-me.

do vale até montanha

passei pela face oculta da lua

fui sombra na sombra

nunca nu , mas despido

do manto velho que me deram.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

eram ondas do mar
enroladas nos teus braços,
desviando meu olhar
na viagem em teu regaço.
com passos de gata
frágil t'esgueiravas
como a brisa vádia...
numa manhã que sorria
que te olhava e se abria...
eras aquela
que eu chamava baixinho,
quando nos meus pensamentos
tu vinhas de mansinho...
acordando verdes musas
caem versos nest'alvura,
que de pele e candura
aconchegam meu ninho.
quem te viu n'areia
de uma praia lusitana,
canta devaneia
constroi sonhos sem tormentos...
quem te não viu sereia
sentiu canções e fados,
em solos fugidios...
numa manhã que sorria
que te olhava e se abria....
abraço deste vale

este "textito" foi escrito para uma composição musical de filipe e vítor Rebolho.
nota: na canção, "aquela" é substituida por amália.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

amanhecer

chove... nada tenho senão nuvens
poiso olhares em almofadas cinzentas
e de alma lavada , nasçi outro... outro eu
da preocupação pela mudança
do que teima em não mudar
passei à mudança dos passos
que dou sem voar, com sonhos
feitos à medida do ser que construo.
não tombei... apenas deixei
o brilho ofuscante de mil e uma estrelas
sonhar galáxias, enquanto digeria meu planeta inventado.
não fui o que esperei? também o não foram... apesar de esperar.
esperaram mais ? nada pude dar... pois nada senti
nem tive o direito de ser assistido , quando o pedi.
falhei? pois talvez tenha reagido por simpatia...
e por quem não veio, esperaram.
nunca tive jeito para ser humano, muito menos para ser estatística!
tenho sempre cravado em mim
o sorriso de infindáveis amizades, onde a palavra fraternidade,
teima em ser esquecida... e esqueço, lembrando-me mais tarde
ou tarde demais. não contarei mais com quem me quer
um mero número inscrito, no meio de tantos outros... que se cansam.
contarei, isso sim, com quem me quer em caminhadas
ombreando realidades com utopias no limiar do nosso olhar.
abraço do outroeu

domingo, 10 de janeiro de 2010

ocaso

acabou.
esta máscara está gasta
no baú das recordações
nada...
silenciosamente saio de cena
com a sensação de que valia a pena
com a certeza de que não fui chamado
confirmando a condição de seres humanos
arrepeso do que não fiz
deixo quem promete e quem me dá
mas também deixo quem nada fez
para que fosse possível sermos
uma irmandade coesa.
não tenho pena de quem foi fachada
pois essa condição manter-se-há,
faça o que faça , não passo de um número de acrobacia
conseguindo chegar ao lusco-fusco antes do estertor.
obrigado para quem cá passou,
obrigado para quem se lembrou
e depois esqueçeu,
obrigado para quem merece.
adeus.
abraço do vale