Poucos me conhecem como homem de fé. Verdade seja dita, não sou de frequentar as cerimónias religiosas. Pelos onze anos de idade, um domingo entre tantos outros, minha mãe perguntava-me se já estava preparado para ir à missa e eu, calmamente, respondia-lhe: " não me apetece ir ".
A minha mãe não ficou enfurecida, ficou apenas admirada. Pois era um menino que adorava ir à missa e cantar.
Perguntou-me qual o motivo, e, com a mesma convicção que me tem acompanhado ao longo vida, apenas lhe respondi que não queria ir pois estavam a contar a mesma história do ano anterior! E assim acabou a minha presença nas religiosas celebrações dominicais.
Claro que continuei a ter uma fé inquebrantável durante a maioria da minha idade juvenil e adolescente.
Essa fé viria a alterar-se com a chegada das questões científicas, alguns princípios filosóficos e a militância partidária.
As questões científicas vão e vêm, sempre com respostas e sempre com muitas outras questões, os princípios filosóficos são isto: oriundos da filosofia. Já a questão partidária acabaria por desvanecer-se em incongruências e incompatibilidades pessoais.
A fé regressaria, sim, mas sem a prática dominical.
Adoro o silêncio dos Templos tal como adoro a quietude da paisagem serena onde bailam e cantam passarinhos, correm as formigas no carreiro, saltam as corças de pedra em pedra, e, lá ao longe as mão ocupadas dos campesinos, desenham as formas do novo pão que há de crescer.
Adoro o murmúrio da pedras do Templo tal como adoro o poema da espuma na areia da praia, da raiva epopeica com que o mar se desfaz nas rochas conquistando o ar. O limiar do horizonte azul desenhando ora ocasos de fogo, ora pacíficas auroras, deixa antever, aqui e ali, um barco ágil que serpenteia até ao cais seguro.
A minha fé constrói-se de heróis do mar e da terra e dos sábios arquitetos que desenham os físicos abrigos cuja etérea essência é ar que se respira. O fôlego cresce nas entranhas da sapiência e na tarefa conquistada.
Sou um homem de fé. Nunca podia deixar de o ser.
Aqui o interior do santuário de Sta. Luzia em Viana do Castelo ( foto de Duarte Braz).
Abraço do Vale.
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