segunda-feira, 15 de março de 2010

um silencio que me doi

lembro-me do som da tua voz
quando cantavas com a avó
minha mãe seguia ,as irmãs também
naquela igreja onde os ecos
não são infinitos,
mas ouço a tua voz
aquela voz que me convençeu
da primeira vez que aquela senhora
de agulha em riste
me queria picar o rabo
e lembro as gargalhadas
ao lembrarem a minha reacção menina
contando:"-picou-te o rabo e tu disseste: puta do caralho!!!"
era bom rir contigo.
aquele núcleo familiar, que se reunia em tua casa, irmãos emigrados da fome
como era bom saciar aquelas crianças que te rodeavam
e com que sabedoria o fazias, era paciência de quem é feito de bondade.
já no bairro dos indios
onde passava as minhas férias, matava a saudade
descobriamos a fragada, caímos no cruzeiro ,
trepavamos às àrvores
faziamos "vinho da amora silvestre",
que acabava numa valente diarreia
lembro-me...
aquela fogueira do natal, em que eu ,
curioso como era
quis ver a lenha e só vi o taipal...
acordei muito depois e estavas lá
a confortar a minha mãe e a olhar por mim,
tal como sempre o fizeste
sem nada mais pedir em troca ,
como sempre te mantiveste...
o meu rebento teve direito a essa tua mão zeladora,
incansável na ternura...
hoje brilha uma estrela,
está junta de outra
que a memória dos cheiros não apagou.

a ti. com toda a ternura.

8 comentários:

Maria disse...

Tão bonito...
Deixo-te um abraço...

poesianopopular disse...

Recordar é viver
a vida vivida é limitada
tal como a vida sonhada
que está para acontecer.

Abraço.

Duarte disse...

Deixei-me embalar por tons plenos de melancolia que me aproximaram a um passado, vivo.
Grato estou.

Os versos empapados de nostalgia levaram-me à infância e mais tarde ao Infante... o alfinete!

Um forte abraço

Unknown disse...

É muito bonito. Agora está num lugar melhor. Abraço da tua mana.

Ana Tapadas disse...

Ah meu amigo...a nostalgia que nos prende ao mundo, o nosso mundo, de ternura que desmorona e fica, todavia...
bj da planície

duarte respondeu... disse...

obrigado maria.
não tão lindo como quem foi...
bjs


o sonho tem dessas coisas, é sempre à medida de uma realidade que por ser tão nossa, corre o risco de ser limitado.
abraço companheiro

duarte
não é nostalgia, é dor.
abraço

hermana!!
eu sei meu amor.
beijinhos

ana
sim ana. ficam sempre as recordações.
bj do vale

monge disse...

ó meu amigo

como lamento ter estado tão distraído e não me ter sequer vindo a ideia de te ter enviado duas palavras de conforto. Lamento profundamente a tua perda e renovo as palavras de tua mana, dizendo que, agora estará bem melhor, sem o sofrimento a atormentá-la.

sentido abraço

utopia das palavras disse...

Como as palavras choradas, fazem lindas...as cartas de dor!

Beijo