Ao meu cão poeta que partiu

O meu cão já não morde os limões, 
nem ladra aos mosquitos, 
nem pula irrequieto 
atrás dos meus acenos. 
Passeia-se numa estrada sem carros, 
abeirada pelas espigas 
e a eternidade do trigo. 
Levou parte da poesia do quintal 
e aos pássaros perenes 
recita os versos dizendo 
Au! Au! ... Au! 

Podia ter dançado 
pelo caminho das Trigueiras 
e descansar no Canouçado 
 
Tinha medo ...
Tinha medo da viatura que o levaria passear, 
tal como levou o Gandulo e a Palhaça, 
Meus eternos companheiros. 

Confessava-me: 
"é engenho dos infernos" 
e... ficava-se pelo quintal. 

O meu cão olhava-me com ar doce, 
tão doce quanto as suas tropelias. 
 
A nespereira do quintal, inquieta 
perguntou pelo Mancha ao limoeiro que o acolhia
 
O limoeiro triste 
e virado para o céu 
Apontou ao firmamento... 
e... chorou as folhas 
que já não abrigavam
Canídeos sonhos e poesia uivada 
 
Até já meu Mancha...     20/02/2025 
 

Comentários

Sofia Teixeira disse…
Um poema tão triste quanto belo. E o Manchas era mesmo tudo isso. Saudades de uma "cãopanhia" tão especial. Deixa muitas saudades.
Duarte Braz disse…
Só quem o conheceu sabe ... muitas saudades.
Quatro Coroas disse…
Que saudades deixam esses fiéis companheiros... depois dele partir, demorei 3 anos a substituir a imagem, do ecrã inicial do telemóvel, que pertencia ao Cookie. Agora... agora está lá o Ozzy sentado na sua pose caraterística. As memórias... essas são insubstituíveis. Repousam dentro de mim... como o meu salsicha em lugar lembrado no jardim!
Duarte Braz disse…
É verdade Quatro Coroas, esses fiéis companheiros são todos insubstituíveis. Um abraço.

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