Tinha (pelo menos) duas alcunhas. O António ora era "marau" , ora era " maluco" . O António tinha o condão de nos fazer rir com as mais inesperadas situações e das mais inusitadas formas. Seria essa faceta que lhe valia a alcunha de maluco, digo eu. Já quanto à outra, não faço ideia. Nunca perguntei. 

Dele eu era amigo, tal como ele sempre foi meu amigo. E sem alcunhas, apenas com a certeza de ele ser António e eu ser Duarte. 

Voltemos ao seu dom particular que era a arte de nos fazer rir. As noites bem regadas, e a música. Sempre foram ingredientes com os quais convivi bastante tempo. Ia aprendendo vendo sobre a portugalidade todos os detalhes que a vida me ia ( e vai ) fornecendo. 

O " Manuel ceguinho" era uma das músicas que cantava o António, nas noites de violas com os Rebolhos, tocadores e mecânicos de profissão. Descobria assim o popular castiço de que se reveste a nossa lusa realidade. " A mula da cooperativa" do Max acabaria por ouvir na voz do António. Não é que o António fosse um virtuoso interprete, mas o tom , o jeito, os trejeitos, o riso franco faziam dele o natural centro de atenções e a raiz da boa disposição que pairava nas noites acesas da campesina vida.
 
Tinha outros atributos menos agradáveis, é verdade. Sempre que ele achasse que a injustiça estaria a ganhar terreno deturpando a verdade o António barafustava. O António, se necessário, se manifestava-se ao lado das minorias. Tinha defeitos? pois teria. Mas quem os não tem?

A minha vida pelo Vale está povoada das brincadeiras e o riso do António. Imagino a festa que lhe fizeram quando o viram a tocar despreocupadamente uma valsa com a ajuda do seu precioso instrumento : o nariz! 
O São Pedro, rindo-se ruidosamente, abriu-lhe a porta para entregar risos e sorrisos num paraíso sem cinzentas personagens. 

Até sempre, António. 

Duartenovale  

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