segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A lama do tempo que nos deram

o rosto vazio de coisa alguma,
encaro da lama
onde chafurdam os mais normais vizinhos de labuta,
um sol cinzento e um cheiro a vento.
Este brilho de choro a terra feita mar,
ganha na chuva o seu poderoso aliado,
e cresce feito torrente...
fundindo-se nas nuvems frescas ,
aroma de um outono .
Tenho a pele coberta de uma cor,
e na pele o sorriso de um sol que m'esqueçe.
açendo o meu candeeiro,
e vejo no espelho perdido pela minha vontade,
um espaço de parede exibindo
minha única primavera...
mas a ruga traiçoeira,
guardou mil pensamentos e
sabe-me a novembro
esse abril encalhado.

outroeu

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Aos navegantes da merda.


Aos herois de Portugal

prostituto pobre e podre

Aos herois de uma pátria

adiada, aniquilida

Canto odes ,

odiando não ser cidadão

de uma bandeira verde e rubra

Sendo apenas antimatéria

de uma estrela anã...

Canto sim.

Mas com o refrão encalhado

N'as armas , n'as armas

que para mim apontam.

cidadão liberto

ou mesmo por prender

às mais nefastas consequências

do que é não ser jamais

cidadão PORTUGUÊS.

Quero dizer MERDA!,

sem que nela me afunde

Pois com tanto politiqueiro a obrar

Merda é coisa tão vulgar

Que até mesmo a Ofélia

teria de morrer nela.


abraço do vale

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

um 1/4 que até é meu

Este canto onde me sento
é de luz ténue ,
Lampada de tecto, chão de restos, almofada de mortalha.
Esta parede que me olha
não tem janela, prima da outra que espia por cima do meu ombro
e que , essa sim, tem janela (mas com portadas fechadas).
A velha madeira que me acompanha, pela noite dentro
num ranger de dobradiças, suporta-me os pesadelos os sonhos e os devaneios
ou não suporta nada, apenas reage.
Este canto que crava alguns silencios na minha ausencia
é canto doutroeu, melodia sussurada ou poiso vagabundo.
Descalço escrevo , arrefecendo os calos neste chão flutuante,
onde pouco importa a cor, apenas o tropeço na barbaridade de fios entrelaçados,
como ondas revoltas num mar de energia ...
esta voz que esbarra na impedancia do ar que me sufoca,
mais parece um nevoeiro de cigarros feito.
mais uma chama... será esta que me vai libertar num último aperto , esganando os meus pulmões?
Pouco importa, os calos continuam quentes, a parede vazia, e a janela fechada...
Aqui sou eu.
abraço vindimeiro

domingo, 12 de setembro de 2010

Domingo


hoje é 12 de setembro, bem podia ser 13... mas como ontem estivemos no dia 11 , hoje, inexorávelmente é o "pós aquilo" ou o "pré coisa e tal".

Não que queira minimizar qualquer data ou acontecimento, somente que ,para cada acção temos uma reacção. umas lentas ,outras relampago, umas maquiavelmente arquitectadas ,outra cirurgicamente montada e levadas a cabo... e depois há as outras, aquelas que ainda não aconteceram( talvez por ainda não ser dia 13).

Mas adiante, é Domingo. sinto-me mais velho qualquer coisita. A missa , como costume não esperou por mim. O campo ( onde reside toda a magia da gênese) esse sim , acontece com gente e outros "não gente"( mas não menos importante que as anteriores).

Esqueço o mar (que há bem pouco vi), recolho a fruta que uma Primavera florida e um verão tórrido, se encarregaram de adoçicar.

Voltando ao dia de ontem.

Olhando para a televisão, ouvi coros lindíssimos, rostos emoldurados numa profunda(e real) tristeza, não vi o "outro"( aquele que criou as condições para haver imagens e consequencias REALMENTE tristes)... deve andar a contar carneiros(pois carneirada não falta). Pela tarde , depois de uma manhã de empenho na vinha, fui ao meu barbeiro(um de dois que costumo frequentar) , estava de descanso. visitei um amigo , falamos da diferenças de costumes entre povos, e segui novamente para o Vale... a noite chegou e bem depressa hoje tornou-se ontem.

Neste 12 que ainda teima em não ser 13, vou pensando nos dias , nas semanas, nas estações do ano...no Tempo.

Amanhã terei a minha consulta de especialidade, que o SNS teima (faz 3 anos) em não agendar.

Não tardará muito, setembro irá ser mais uma promessa, um marco de encontro e desencontros, se até lá chegar.

Hoje , é um número.

Abraço do vale

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Camaradagem


imagem de ocastendo.blogs.sapo

Tenho andado às voltas com as minhas tarefas de colheteiro, o tempo tem sido espremido até ao seu tutánico segundo. Mas lá consegui reunir um grupo de amigos do vale , metermo-nos no autocarro fretado pela organização de Bragança( não antes de, pelas 5 da manhã carregar o camião do frio com as toneladas de fruta apanhadas préviamente, recolher 3 amigos com as suas bagagens, fazer os telefonemas necessários, juntar a documentação de outros amigos e amigas que não puderam estar presentes devido ao falecimento de um familiar), e rumar à FESTA!


Foi com bastante expectativa que estive presente na Atalaia. Este pequeno ( E ENORME) interregno, é-me vital, por ser o local onde a palavra camarada tem o sentido que sempre lhe atribuí.


Alguns telefonemas depois e abraços sentidos, estava pronto para mais um fim de semana, onde iria repetir rituais que duram faz já alguns anos... uns aconteceram outros ficaram-se pela intenção. A palavra camarada, afinal, é mais densa e complexa do que imaginava. Complexa porque implica camaradagem , densa porque (na minha modesta opinião) implica a cultura e alimentação de amizades principiadas .


Numa enciclopédia que tenho aqui à mão aparece-me esta definição( enciclopédia da KLS de 1979) :


Pessoa que convive com outra;companheiro./ Pessoa que tem a mesma profissão que outra./ Colega, condiscípulo. / Bom sujeito , amigo. / - Adj. Agradável; tolerante, compreensivo.


................................


Pois eu sei , isso não passam de definições, e podem variar de sujeito para sujeito, dependendo da nossa forma de socializar ou não-socializar.


Na festa.


Senti o calor do dia , o sorriso aberto de quem nos quer bem, a solidariedade e a prontidão no auxilio a quem precisa, senti tanta coisa e não senti outras. A festa cresceu, este espaço que se quer de Liberdade e Solidariedade , está, cada vez mais, no melhor caminho possivel.


Cultivei como pude , a minha camaradagem, com defeitos à mistura certo ( a minha timidez por vezes parece não existir, mas lá está ela a travar-me quando o não queria), mas tentei e tentarei sempre para quem me quer camarada.


Abraço grande com tudo que a camaradagem pode trazer de bom.


( com um agradecimento especial ao pessoal de serviço na recepção do parque de campismo).



imagem de caminhodemim.blogspot.com

terça-feira, 22 de junho de 2010

sentido único

como é lindo o teu meio-sorriso
é feito de agruras,
banhado em seda.
que belas mãos carregam teu fardo
filhas de meias-vontades,
escravas do tempo.
bebo na aridez do teu olhar...
o gelo que teimosamente guardo,
é imune ao teu pulsar !
acredito no não-querer
no vazio dos gestos
na ausencia presente,
acredito em nada,
porque não pensar é nada ser.
todos os cadaveres do mundo
juntaram o silencio
e calado, não canto...
aprecio apenas a plenitude da morte.
perfeita , incontornável, senhora de todos...
a última e unica amante,
dá-se a todos, e não provoca ciumes.
como gosto que nada me venha a amar...
até lá... sou.

abraço do vale

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O mar não tem muros, mas há por lá burros que se farte!

quantas vezes será necessário? quem é o agressor? quem é o agredido?
Desta vez em plenas àguas internacionais, um grupo de barcos foi brutalmente abordado , com actos dignos de autenticos piratas. morrerram pessoas outras ficaram feridas.
Não. não eram palestinianos, não eram terroristas, não eram barcos de guerra , eram tão somente barcos com ajuda humanitária...
Gregos e Turcos. O que raio anda a fazer a MERDA DA ONU? e a PORRA DA EUROPA? e os imperialistas dos STATES?
Será que é desta ? será que vão isolar os israelitas? será que é mais importante um acto hediondo do que uma diferença ideológica?
POIS POR DIFERENÇAS IDEOLÓGICAS EXISTEM ESTADOS ISOLADOS FAZ CERCA DE 50 ANOS!!!
O QUE VALE MAIS ? A VIDA DE UM POVO, OU AS DIFERENÇAS IDEOLÓGICAS?!
Com todo o respeito que tenho para alguns israelitas : eu quero que se fodam os porcos que mandam naquela merda que se chama "terra prometida". E prometida por quem?
FILHOS DA PUTA!!! fora a mãe deles que não tem a culpa toda.
QUEREMOS JUSTIÇA CARALHO!!!

abraço do vale(com as minhas desculpas pela linguagem utilizada... mas o que é demais é moléstia)

sábado, 22 de maio de 2010

Inicio

Fiz da pedra da calçada
A poesia que faltava
A cinzel esculpi multidões
Um martelar solto cadencia novos passos
Em campos e searas aprumam-se as ceifeiras
E se tiver de caminhar sobre o gume de uma foiçe
Caminharei de cravo ao peito , de pedra em riste
Apressai-vos companheiros
Pois a noite não demora...

um vale de abraços

quarta-feira, 31 de março de 2010

A boca da cena

debulhei os tinteiros ....

estavam mil e uma palavras

nas mãos manchadas e sem penas.

preenchi de cor a pátria...

gritavam as paredes indivisiveis

mas a cor era só uma.

o dramaturgo era falido,

descrevera perdido na cena

os passos errantes e sem deixas

de uma tímida ninfa...

e a plateia devoradora de almas

estilhaçava seus critalinos olhares.

abraço do vale

terça-feira, 30 de março de 2010

FÉ?

LADRÕES DE ALMAS !!!
IDE ROUBAR SUOR AO MONTE!

CAVAI COM AS UNHAS TRATADINHAS
AS COVAS NOS ROSTOS CHAFURDADOS!

NA CAUDA DOS MISTÉRIOS
VIVEM OS LIMPA-CUS...

ALELUIA FEZ-SE A MERDA!!!

HAVERÁ BOCAS QUE CHEGUEM?

OREMOS AOS SANTOS
POIS DE PAPAS ESTAMOS FARTOS

OREMOS GRITANDO
É PRECISO CALAR MURMURIOS!

AI .... FALSA FÉ,
QUE OS CEGOS QUEREM
E OUTROS
BEM MAIS VISUAIS
USAM...

BENDITA SEJA A PALAVRA DO SENHOR

MALDITOS SEJAM OS PASTORES
QUE COMEM OS CORDEIROS
ESPANTAM OS REBANHOS
E DORMEM COM CADELAS!!!

com a benção do vale ide pró raio que vos parta!

domingo, 21 de março de 2010

dia do quê?!

Matei à machada a porra do poema

hoje não me apetece poesia, nem poetas, nem dias especiais

hoje apetece-me trucidar as palavras, fazer jorrar tinta pelos fonemas

mastigar papel , cuspí-lo na cara das canetas!

as onomatopeias provenientes da sodomia da mensagem

pelas mais selvagens imagens, sem metaforas à mistura

a produzirem cacofonia rasgando toda a aliteração...

encher o pleonasmo d' hiperbatos, nunca apontando para hiperbolas!

quero caos na métrica, quero rima remendada ou até mesmo rota .

quero que morram as ideias em partos prematuros.

abraço doutroeu

quinta-feira, 18 de março de 2010

futura viagem ao passado

mais uma viagem, n será a esperada, mas será certamente a necessária.
O meu regresso à cidade onde cirandei pela última vez com o meu grande amigo (e não menos grande cozinheiro) Henrique e o Zé cigano(nada cozinheiro, mas condutor hablidoso), será feito de sabor especial.
Ñão , não vai ser como da última vez em que saímos de Macedo de Cavaleiros às 4 da matina, todos menos sóbrios, que um alcoolico sem sindrome de abstinencia. Desta vez, porque já tive aquele ataque de juizo, vou como me tenho redesenhado: sóbrio.
Mas com saudade à loucura que esteve para acontecer e que não irá ter lugar. Coisas que a razão desconhece.
Irei ver a urbe, alguns amigos, e conterrâneos tb.
Olharei em direcção ao Gerês , onde repousam memórias de manhãs ensonadas, à beira d'agua. Recordarei o Rui zuco, e o pessoal do Alto da Maia. As viagens d'improviso ,com violas , vinho e traçadinhos ,de Braga ao gerês...
E desta vez, sim agora vou com outros propósitos.
Vou ver a cidade com um olhar maduro , apreciar o tecido humano que nela fervilha, se tiver tempo , disfrutarei dalguma das muitas ofertas culturais.
Voltarei mais rico.
Tal como enriquecido fiquei ao saber, que esta iria ser uma viagem, diferente daquela que préviamente combinara.
Irei, como combinado, em direcção a Ponte de Lima, onde irei encontrar-me com outros conterrâneos.
Irei ver os cavalos velhos, presos numa amalgama de ferro...
soltá-los-ei , e,
cavalgaremos até ao vale, sem descanso, sem nunca olhar para trás.
Deixando as recordações, tomar o seu velho caminho.
Quantas saudades tenho, do que ainda não vi !

abraço do vale

quarta-feira, 17 de março de 2010

colheita do povo



Um sol primaveril

Com manhãs d'inverno...

Flores que temem

Em fechar sorrisos.

A recolta do pólen

Não tem sido profícua!

As abelhas dormem...


Um chão de erva

Grassa , daninha...

Lavoiras que pedem

Terra revolta

Arados tratores

Rasgando raízes.

E a chuva... espera...


Nos frutos prometidos

Mora a esperança

Das bolsas feridas

De tão pouca bonança.

Talvez um dia possamos

Ir colhendo e saciando

Um povo sem "amos" !!!


abraço do vale


imagem tirada de mediamoc.com(artbalanca/colheita do povo)

segunda-feira, 15 de março de 2010

um silencio que me doi

lembro-me do som da tua voz
quando cantavas com a avó
minha mãe seguia ,as irmãs também
naquela igreja onde os ecos
não são infinitos,
mas ouço a tua voz
aquela voz que me convençeu
da primeira vez que aquela senhora
de agulha em riste
me queria picar o rabo
e lembro as gargalhadas
ao lembrarem a minha reacção menina
contando:"-picou-te o rabo e tu disseste: puta do caralho!!!"
era bom rir contigo.
aquele núcleo familiar, que se reunia em tua casa, irmãos emigrados da fome
como era bom saciar aquelas crianças que te rodeavam
e com que sabedoria o fazias, era paciência de quem é feito de bondade.
já no bairro dos indios
onde passava as minhas férias, matava a saudade
descobriamos a fragada, caímos no cruzeiro ,
trepavamos às àrvores
faziamos "vinho da amora silvestre",
que acabava numa valente diarreia
lembro-me...
aquela fogueira do natal, em que eu ,
curioso como era
quis ver a lenha e só vi o taipal...
acordei muito depois e estavas lá
a confortar a minha mãe e a olhar por mim,
tal como sempre o fizeste
sem nada mais pedir em troca ,
como sempre te mantiveste...
o meu rebento teve direito a essa tua mão zeladora,
incansável na ternura...
hoje brilha uma estrela,
está junta de outra
que a memória dos cheiros não apagou.

a ti. com toda a ternura.

terça-feira, 9 de março de 2010

ENTIERRO DE LAS VOLUNTADES



Neste domingo passado, eu a amaterasu e o leandro partimos para uma viagem. a minha bagagem era a pele de um ceginho , uma viola ,merenda (que entretanto ficára esquecida , em torre de moncorvo), o meu telemóvel (que veio a revelar-se tão inútil quanto os demais existentes).



Acompanhado pela amizade dos meus companheiros, ria-me com a minha amaterasu de desgraçadinha pintada. o leandro deitando um olhar paciente e preocupado nos seus dois actores ,virou-se para os céus cinzentos,protestando de tanta chuva e.... tanta loucura a resvalarar dos risos estridentes, do ceginho e da desgraçadinha.






O condutor, carlos d' abreu ( um homem empenhadíssimo na divulgação do património raiano e transmontano, douro incluido), ía falando dos pormenores arquitecturais e paisagístico do percurso, envolvendo história pelo meio.


Barca d'alva.
Chuvicos e chuva alternando com muito nublado. O caminho de ferro ,encerrado faz vinte e cinco anos, olhava triste para as águas do douro amarelado. A festa transfronteiriça da amendoeira em flor ,este ano , coincidiu com a inauguração de uma escultura simbolizando o enterro das vontades gorvenamentais, quanto à reabertura deste máginfico troço de engenheiria ferróviaria, que partia do Porto e seguia até la Fuente San Esteban.






a transfonteiriça ponte ferroviaria , galga o rio Águeda na sua foz, acabando por morrer em espanha ,com o pomposo adjectivo de património de interesse turístico (pois em portugal está morto e nem estatuto de património tem), a uns metros de um túnel, de onde ecoam memórias do passado.
















Após uma atribulada actuação, em que o cêginho foi obrigado a fazer parar o transito , já que a desgraçadinha esperava um comboio que tardava em chegar e ia-se esqueçendo de pegar no cêginho e desviá-lo para a berma do caminho, em que o pobre tocador ia parando ao douro de tão desorientado que andava(não fosse ele cego e coxo); lá foram todos para o topo da arriba, ampanrando um senhor com 70 anos uma perna partida outra inflamada , e o cansaço natural que estas coisas provocam.




Farnel.

uma mesa bem composta , vinho português e espanhol , pão , muito peguilho, menos o nosso....claro. E eu com um ataque de fúria. Lá se compôs a coisa, tocamos umas musiquetas cantamos em espanhol, português e françês e lá fomos conversando. Gente interessante, fotógrafos a tirar umas a uma distancia respeitável e outro a capturar-me na caixinha mágica, mais vezes do que alguma vez o fizeram em toda a minha vidinha.




A minha viola , prostituida , foi parar às mãos de um castelhano(com a minha autorização, não fosse eu chulo dela) , e passado 10 min o castelhano: "- rompi un mi-".....




fumo a saír da minha locomotora...calma duarte, calma.... peguei no profanado instrumento, orfão de algum aço , tal como a triste linha que muitas viagens cantou; e pendurei-a para um breve descanso. não tardou desenterrei a minha vontade e alegremente, lá se animaram as hostes.




Partimos para o encerramento de a exposição patente em Barca de Alva .

Uns pela linha acima, em direcção à abandonada estação, outros de automóvel( o meu amigo dramaturgo de 70 anos, eu a amaterasu, o carlos ,a mulher o visconde- que entretanto tinha antipatizado com a viola, dando lhe umas valentes ladradelas). continuava o céu cinzento.




A exposição " La Raia rota" de Vitorino Garcia , teve honra de banda e de uns passos de dança do ceginho acompanhado pela sua desgraçadinha( que entretanto se ria com o rosto camuflado no peito do coxo cego), presa entre ele e a viola.



em primeiro plano vitorino


Acabada a banda lá foi a desgraçadinha ver a esposição, acompanhada do seu ceginho(que lhe pediu para descrever a textura das imagens que ele nunca vira e que muitos esqueceram), com a esperança de poder cantar mais uma vez, e sacar uns vintéms para o pão. nada feito. depois do discurso que o cego ouviu e a desgraçadinha (cansada e trêmula) digeriu, saíram.


Já no café do xico, os dois perguntaram se podiam tocar e cantar, e despejaram as desgraças recolhendo as não menos desgraçadas esmolas. 1h40 min depois , a amaterasu e o duartenovale , tinham poisado a máscara. O comboio não passara, a eva tinha saido e uns ventos vadios invadiram a alma do biolas. Raiva contida.


e assim descarrilados nas vontades enterradas fomos para o vale.


obrigado xaina, leandro vale, carlos d'abreu(e sua filha pela gentileza), e obrigado companheiros por este momento chuvoso mas frutífero.


abraço do vale

fotos de Daniel Gil

para mais informações, consultar http://www.contrabando.org/

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Vultos in temporais

cortinas de espuma barria

arrastam o mais leve sonho

atirando ao mar bravio

crianças feitas homems



ribeiros choram casas

riachos cospem carros

a montanha desceu a praia

a cidade pintou-se de lama.


na madeira um jardim

virou entulho e carne

dinheiros que por fim

não serviram para nada.


nos bolsos de quem o teve

apressadamante planeou

território ordenou

e quem pobre era, se manteve.


quem nada tem perda a vida

quem pouco tem tudo perde

quem muito tem pobre fica

pois quem tem tudo, de nada serve.


como disse o caetano

que "o Haiti é aqui"

também digo(e não me engano)

"e agora, que não há aqui?"


globalmalmente enganados

à merçê de tempos bravios

de que nos vale o fado?

de que nos vale os gritos?


poder é : termos o direito à partilha


termos direito a ter direitos

neste continente feito de ilhas


com gente que o poder fez.




abraço do vale , triste e solidário.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

PARECE QUE FOI ONTEM

naquele dia que nos levou até hoje

desenhaste as estradas

com cantos de liberdade

silencios morrem ao som que é eco

da tua alma em nós plantada

esquecer? como?

se somos fruto da mesma árvore!

que toquem alto a nossa liberdade

pois ,gente surda, teima em não ouvir

o voo ao vento das asas dos teus versos.

..............no vale ainda se canta.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

janela aberta com persiana corrida

quando as tuas tardes são minhas manhãs, pinto girasois na tua janela virada para um futuro possível...
quando no alto do teu castelo, princesa, apelas, respondo com o mais sonoro sorriso e o mais envolvente abraço...
mas quando em ti nada mais existe, senão ganancia ausencia de dor e tristeza, nada tens , pois não estou para quem nada espera.
fiz uma chama na lareira do teu pensamento, penso eu
será preciso alimentar esse fogo que tarda em consumir-te?
que máscara terei eu de esculpir na pedra dos teus sonhos?
uma máscara cristalina , opaca ou espelhada?
em contornos que não defino, encaminho meus dedos na cegueira de dizer-te...
e não te digo, pois ainda não chegaste.
cansado da longa estrada sem linhas e entrelinhas, entorno a tinta seca no caderno dos teus olhos... é vento que te ofereço.
pois de mim, nada... apenas sombras de corpo ausente.
para ti que te queres cativa, não serei horizonte...
ainda assim ,atiro meu abraço ao vento suão, sem esperar nada mais senão, teu peito vivo do pulsar que em ti espero.
até qualquer dia.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

REVOLTA NO CIBERESPAÇO

CULPABILIZAM-ME ASSIM
DE Q'RER MUNDOS SÓ PRA MIM
QUERO SÓ PENSAR POR MIM
NÃO SOU DE TI,NEM DE UM LINK,
QUE PODES AGRAFAR
COPIAR OU COLAR
SEU CORPO ARRASTAR
KAPAS EM PASTAS EDITAR...
A PALAVRA PENSADA ESCRITA
NÃO É OUVIDA,
POR MUITO QU'ENCAMINHES
DE FORMA REPETIDA,
SÃO SUSSURROS SEM ECOS
NA RUA ONDE CRESCE
O VAZIO DO VOO DAS PEDRAS
QU' EM MÃOS AMACIADAS
DAS TECLAS OU TECLADOS
ESQUECEM A FIRMEZA
QUE É NOSSA NATUREZA.
NO MEU CPU AVARIADO,
O RATO ROEU PLACA GRÁFICA
MOTHER BORDER! OU FUCKER!
NÃO VEJO IF I SCAN
AS POLEGADAS ESTÃO MINADAS
SÃO INCH À LA MANIERE
DE VER TUDO À L'ENVERS...

abraço do vale

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

PARAR PARA PENSAR


parar para pensar... às vezes é melhor ir andando e pensar um pouco!

mete-me confusão determinadas expressões. se parar é morrer... será que há vida depois da morte? deve haver alguma coisa, menos pensamentos post-mortem!!!

eu sei, existem diversos tipo de morte... mas eu prefiro ir andando,já que morrer é a única certeza que temos( juntamente com as certezas de termos nascido, comido, mijado, cagado, estudado, feito amor, e outras merdas que agora não me lembro....).

Pois sigo o meu caminho , aos tropeções , meio atarantado com as cabeçadas que já dei, encontrando outros caminhos (uns mais sinuosos, outros menos), apreciando a paisagem enquanto o tempo(que não para) me deixa... fazê-lo.

Quem corre por gosto não cansa! eu cá prefiro a marcha! cansa menos. dois passos pra frente, um para trás.......... e se fosse um de cada vez?! é menos confuso, mais natural... e não fico com ar de bailarino!!!

Tenho tido um gosto especial por dias longos, sujeito a coisas antagónicas: estar no campo com toda a simplicidade da terra , a pedir mãos para quem a quer fértil... e de seguida estar no meio de gente quão diferente, tanto as nuances que delas emanam, ver e ouvir, questionando ou não. estar no café com pessoas de bons costumes e moralmente integradas e de seguida conviver com a mais normal meretriz.

Dias desses fazem-me sentir a pedra da calçada ou o asfalto quente ou então a poeira do caminho ou ainda a lama nos sapatos... ou até tudo isso ao mesmo tempo.

Dias normais? não , obrigado! quero sentir na anormalidade , o nascimento da questão... ou então não questionar , apenas observar e digerir pensando.

Tenho dias , que se vão fazendo mornos... almofadados... e isso sim, aborrece-me.


abraço do vale

domingo, 24 de janeiro de 2010

enfrentei tua sombra despida

jazia num passeio poisada

ao lado de um brilho...

era minha mão armada

que te quis sombra nua.

bailei louco sob os silvos

da metralha dos olhares

em teu fogo consumado

construí um abrigo....

e em cinza , petrifico-me.

do vale até montanha

passei pela face oculta da lua

fui sombra na sombra

nunca nu , mas despido

do manto velho que me deram.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

eram ondas do mar
enroladas nos teus braços,
desviando meu olhar
na viagem em teu regaço.
com passos de gata
frágil t'esgueiravas
como a brisa vádia...
numa manhã que sorria
que te olhava e se abria...
eras aquela
que eu chamava baixinho,
quando nos meus pensamentos
tu vinhas de mansinho...
acordando verdes musas
caem versos nest'alvura,
que de pele e candura
aconchegam meu ninho.
quem te viu n'areia
de uma praia lusitana,
canta devaneia
constroi sonhos sem tormentos...
quem te não viu sereia
sentiu canções e fados,
em solos fugidios...
numa manhã que sorria
que te olhava e se abria....
abraço deste vale

este "textito" foi escrito para uma composição musical de filipe e vítor Rebolho.
nota: na canção, "aquela" é substituida por amália.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

amanhecer

chove... nada tenho senão nuvens
poiso olhares em almofadas cinzentas
e de alma lavada , nasçi outro... outro eu
da preocupação pela mudança
do que teima em não mudar
passei à mudança dos passos
que dou sem voar, com sonhos
feitos à medida do ser que construo.
não tombei... apenas deixei
o brilho ofuscante de mil e uma estrelas
sonhar galáxias, enquanto digeria meu planeta inventado.
não fui o que esperei? também o não foram... apesar de esperar.
esperaram mais ? nada pude dar... pois nada senti
nem tive o direito de ser assistido , quando o pedi.
falhei? pois talvez tenha reagido por simpatia...
e por quem não veio, esperaram.
nunca tive jeito para ser humano, muito menos para ser estatística!
tenho sempre cravado em mim
o sorriso de infindáveis amizades, onde a palavra fraternidade,
teima em ser esquecida... e esqueço, lembrando-me mais tarde
ou tarde demais. não contarei mais com quem me quer
um mero número inscrito, no meio de tantos outros... que se cansam.
contarei, isso sim, com quem me quer em caminhadas
ombreando realidades com utopias no limiar do nosso olhar.
abraço do outroeu

domingo, 10 de janeiro de 2010

ocaso

acabou.
esta máscara está gasta
no baú das recordações
nada...
silenciosamente saio de cena
com a sensação de que valia a pena
com a certeza de que não fui chamado
confirmando a condição de seres humanos
arrepeso do que não fiz
deixo quem promete e quem me dá
mas também deixo quem nada fez
para que fosse possível sermos
uma irmandade coesa.
não tenho pena de quem foi fachada
pois essa condição manter-se-há,
faça o que faça , não passo de um número de acrobacia
conseguindo chegar ao lusco-fusco antes do estertor.
obrigado para quem cá passou,
obrigado para quem se lembrou
e depois esqueçeu,
obrigado para quem merece.
adeus.
abraço do vale