quarta-feira, 31 de março de 2010

A boca da cena

debulhei os tinteiros ....

estavam mil e uma palavras

nas mãos manchadas e sem penas.

preenchi de cor a pátria...

gritavam as paredes indivisiveis

mas a cor era só uma.

o dramaturgo era falido,

descrevera perdido na cena

os passos errantes e sem deixas

de uma tímida ninfa...

e a plateia devoradora de almas

estilhaçava seus critalinos olhares.

abraço do vale

terça-feira, 30 de março de 2010

FÉ?

LADRÕES DE ALMAS !!!
IDE ROUBAR SUOR AO MONTE!

CAVAI COM AS UNHAS TRATADINHAS
AS COVAS NOS ROSTOS CHAFURDADOS!

NA CAUDA DOS MISTÉRIOS
VIVEM OS LIMPA-CUS...

ALELUIA FEZ-SE A MERDA!!!

HAVERÁ BOCAS QUE CHEGUEM?

OREMOS AOS SANTOS
POIS DE PAPAS ESTAMOS FARTOS

OREMOS GRITANDO
É PRECISO CALAR MURMURIOS!

AI .... FALSA FÉ,
QUE OS CEGOS QUEREM
E OUTROS
BEM MAIS VISUAIS
USAM...

BENDITA SEJA A PALAVRA DO SENHOR

MALDITOS SEJAM OS PASTORES
QUE COMEM OS CORDEIROS
ESPANTAM OS REBANHOS
E DORMEM COM CADELAS!!!

com a benção do vale ide pró raio que vos parta!

domingo, 21 de março de 2010

dia do quê?!

Matei à machada a porra do poema

hoje não me apetece poesia, nem poetas, nem dias especiais

hoje apetece-me trucidar as palavras, fazer jorrar tinta pelos fonemas

mastigar papel , cuspí-lo na cara das canetas!

as onomatopeias provenientes da sodomia da mensagem

pelas mais selvagens imagens, sem metaforas à mistura

a produzirem cacofonia rasgando toda a aliteração...

encher o pleonasmo d' hiperbatos, nunca apontando para hiperbolas!

quero caos na métrica, quero rima remendada ou até mesmo rota .

quero que morram as ideias em partos prematuros.

abraço doutroeu

quinta-feira, 18 de março de 2010

futura viagem ao passado

mais uma viagem, n será a esperada, mas será certamente a necessária.
O meu regresso à cidade onde cirandei pela última vez com o meu grande amigo (e não menos grande cozinheiro) Henrique e o Zé cigano(nada cozinheiro, mas condutor hablidoso), será feito de sabor especial.
Ñão , não vai ser como da última vez em que saímos de Macedo de Cavaleiros às 4 da matina, todos menos sóbrios, que um alcoolico sem sindrome de abstinencia. Desta vez, porque já tive aquele ataque de juizo, vou como me tenho redesenhado: sóbrio.
Mas com saudade à loucura que esteve para acontecer e que não irá ter lugar. Coisas que a razão desconhece.
Irei ver a urbe, alguns amigos, e conterrâneos tb.
Olharei em direcção ao Gerês , onde repousam memórias de manhãs ensonadas, à beira d'agua. Recordarei o Rui zuco, e o pessoal do Alto da Maia. As viagens d'improviso ,com violas , vinho e traçadinhos ,de Braga ao gerês...
E desta vez, sim agora vou com outros propósitos.
Vou ver a cidade com um olhar maduro , apreciar o tecido humano que nela fervilha, se tiver tempo , disfrutarei dalguma das muitas ofertas culturais.
Voltarei mais rico.
Tal como enriquecido fiquei ao saber, que esta iria ser uma viagem, diferente daquela que préviamente combinara.
Irei, como combinado, em direcção a Ponte de Lima, onde irei encontrar-me com outros conterrâneos.
Irei ver os cavalos velhos, presos numa amalgama de ferro...
soltá-los-ei , e,
cavalgaremos até ao vale, sem descanso, sem nunca olhar para trás.
Deixando as recordações, tomar o seu velho caminho.
Quantas saudades tenho, do que ainda não vi !

abraço do vale

quarta-feira, 17 de março de 2010

colheita do povo



Um sol primaveril

Com manhãs d'inverno...

Flores que temem

Em fechar sorrisos.

A recolta do pólen

Não tem sido profícua!

As abelhas dormem...


Um chão de erva

Grassa , daninha...

Lavoiras que pedem

Terra revolta

Arados tratores

Rasgando raízes.

E a chuva... espera...


Nos frutos prometidos

Mora a esperança

Das bolsas feridas

De tão pouca bonança.

Talvez um dia possamos

Ir colhendo e saciando

Um povo sem "amos" !!!


abraço do vale


imagem tirada de mediamoc.com(artbalanca/colheita do povo)

segunda-feira, 15 de março de 2010

um silencio que me doi

lembro-me do som da tua voz
quando cantavas com a avó
minha mãe seguia ,as irmãs também
naquela igreja onde os ecos
não são infinitos,
mas ouço a tua voz
aquela voz que me convençeu
da primeira vez que aquela senhora
de agulha em riste
me queria picar o rabo
e lembro as gargalhadas
ao lembrarem a minha reacção menina
contando:"-picou-te o rabo e tu disseste: puta do caralho!!!"
era bom rir contigo.
aquele núcleo familiar, que se reunia em tua casa, irmãos emigrados da fome
como era bom saciar aquelas crianças que te rodeavam
e com que sabedoria o fazias, era paciência de quem é feito de bondade.
já no bairro dos indios
onde passava as minhas férias, matava a saudade
descobriamos a fragada, caímos no cruzeiro ,
trepavamos às àrvores
faziamos "vinho da amora silvestre",
que acabava numa valente diarreia
lembro-me...
aquela fogueira do natal, em que eu ,
curioso como era
quis ver a lenha e só vi o taipal...
acordei muito depois e estavas lá
a confortar a minha mãe e a olhar por mim,
tal como sempre o fizeste
sem nada mais pedir em troca ,
como sempre te mantiveste...
o meu rebento teve direito a essa tua mão zeladora,
incansável na ternura...
hoje brilha uma estrela,
está junta de outra
que a memória dos cheiros não apagou.

a ti. com toda a ternura.

terça-feira, 9 de março de 2010

ENTIERRO DE LAS VOLUNTADES



Neste domingo passado, eu a amaterasu e o leandro partimos para uma viagem. a minha bagagem era a pele de um ceginho , uma viola ,merenda (que entretanto ficára esquecida , em torre de moncorvo), o meu telemóvel (que veio a revelar-se tão inútil quanto os demais existentes).



Acompanhado pela amizade dos meus companheiros, ria-me com a minha amaterasu de desgraçadinha pintada. o leandro deitando um olhar paciente e preocupado nos seus dois actores ,virou-se para os céus cinzentos,protestando de tanta chuva e.... tanta loucura a resvalarar dos risos estridentes, do ceginho e da desgraçadinha.






O condutor, carlos d' abreu ( um homem empenhadíssimo na divulgação do património raiano e transmontano, douro incluido), ía falando dos pormenores arquitecturais e paisagístico do percurso, envolvendo história pelo meio.


Barca d'alva.
Chuvicos e chuva alternando com muito nublado. O caminho de ferro ,encerrado faz vinte e cinco anos, olhava triste para as águas do douro amarelado. A festa transfronteiriça da amendoeira em flor ,este ano , coincidiu com a inauguração de uma escultura simbolizando o enterro das vontades gorvenamentais, quanto à reabertura deste máginfico troço de engenheiria ferróviaria, que partia do Porto e seguia até la Fuente San Esteban.






a transfonteiriça ponte ferroviaria , galga o rio Águeda na sua foz, acabando por morrer em espanha ,com o pomposo adjectivo de património de interesse turístico (pois em portugal está morto e nem estatuto de património tem), a uns metros de um túnel, de onde ecoam memórias do passado.
















Após uma atribulada actuação, em que o cêginho foi obrigado a fazer parar o transito , já que a desgraçadinha esperava um comboio que tardava em chegar e ia-se esqueçendo de pegar no cêginho e desviá-lo para a berma do caminho, em que o pobre tocador ia parando ao douro de tão desorientado que andava(não fosse ele cego e coxo); lá foram todos para o topo da arriba, ampanrando um senhor com 70 anos uma perna partida outra inflamada , e o cansaço natural que estas coisas provocam.




Farnel.

uma mesa bem composta , vinho português e espanhol , pão , muito peguilho, menos o nosso....claro. E eu com um ataque de fúria. Lá se compôs a coisa, tocamos umas musiquetas cantamos em espanhol, português e françês e lá fomos conversando. Gente interessante, fotógrafos a tirar umas a uma distancia respeitável e outro a capturar-me na caixinha mágica, mais vezes do que alguma vez o fizeram em toda a minha vidinha.




A minha viola , prostituida , foi parar às mãos de um castelhano(com a minha autorização, não fosse eu chulo dela) , e passado 10 min o castelhano: "- rompi un mi-".....




fumo a saír da minha locomotora...calma duarte, calma.... peguei no profanado instrumento, orfão de algum aço , tal como a triste linha que muitas viagens cantou; e pendurei-a para um breve descanso. não tardou desenterrei a minha vontade e alegremente, lá se animaram as hostes.




Partimos para o encerramento de a exposição patente em Barca de Alva .

Uns pela linha acima, em direcção à abandonada estação, outros de automóvel( o meu amigo dramaturgo de 70 anos, eu a amaterasu, o carlos ,a mulher o visconde- que entretanto tinha antipatizado com a viola, dando lhe umas valentes ladradelas). continuava o céu cinzento.




A exposição " La Raia rota" de Vitorino Garcia , teve honra de banda e de uns passos de dança do ceginho acompanhado pela sua desgraçadinha( que entretanto se ria com o rosto camuflado no peito do coxo cego), presa entre ele e a viola.



em primeiro plano vitorino


Acabada a banda lá foi a desgraçadinha ver a esposição, acompanhada do seu ceginho(que lhe pediu para descrever a textura das imagens que ele nunca vira e que muitos esqueceram), com a esperança de poder cantar mais uma vez, e sacar uns vintéms para o pão. nada feito. depois do discurso que o cego ouviu e a desgraçadinha (cansada e trêmula) digeriu, saíram.


Já no café do xico, os dois perguntaram se podiam tocar e cantar, e despejaram as desgraças recolhendo as não menos desgraçadas esmolas. 1h40 min depois , a amaterasu e o duartenovale , tinham poisado a máscara. O comboio não passara, a eva tinha saido e uns ventos vadios invadiram a alma do biolas. Raiva contida.


e assim descarrilados nas vontades enterradas fomos para o vale.


obrigado xaina, leandro vale, carlos d'abreu(e sua filha pela gentileza), e obrigado companheiros por este momento chuvoso mas frutífero.


abraço do vale

fotos de Daniel Gil

para mais informações, consultar http://www.contrabando.org/